Comandante diz que salário de bombeiro no Rio 'não e compatível' com função
"A defasagem salarial veio se agravando ao longo dos anos", afirmou em entrevista coletiva nesta terça-feira. "A gente quer encontrar qual é o salário. Agora, não adianta ficar com comparações que não são conclusivas, dizer que o soldado em Brasília ganha R$ 5 mil. Isso não é o parâmetro."
O coronel assumiu o comando dos Bombeiros do Rio no sábado, em meio a uma crise sem precedentes na instituição. Na sexta-feira, cerca de mil manifestantes ocuparam o Quartel Central dos Bombeiros e foram retirados apenas na manhã seguinte, com a invasão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque.
Dentre os manifestantes, 439 bombeiros foram presos na operação, e o então comandante-geral foi exonerado do cargo.
Simões chamou para si a responsabilidade de resolver o problema da greve e de apresentar as reivindicações da categoria ao governador do Rio, Sérgio Cabral. "Eu abri esse canal de comunicação para ouvir a tropa, conhecer suas reivindicações e, principalmente, esclarecer que o representante legal da instituição sou eu."
Ele seguiu da coletiva para uma reunião com três líderes do movimento e com o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Paulo Melo (PMDB), que vem apoiando os bombeiros, e disse que solicitaria uma reunião com o governador assim que tivesse as propostas consolidadas para lhe apresentar. "Acredito que até amanhã teremos uma solução definitiva", disse.
Salários
A escalada veio depois de dois meses de greves e protestos para reivindicar aumento salarial e melhores condições de trabalho. De acordo com o blog "S.O.S. Guarda Vidas", criado por representantes da categoria, os soldados do Estado recebem o pior salário do país: R$ 1.031,38 (sem vale-transporte), ocupando o 27º lugar no ranking nacional.
Os bombeiros pedem o aumento do piso atual, de R$ 950, para R$ 2 mil, com direito ao vale-transporte. E repudiam o programa de recuperação salarial do governo, que prevê aumento de 1% ao mês ao longo de quatro anos. Ao fim do quadriênio, que começou a contar em janeiro, o salário chegará a R$ 2.077,25, o que, segundo Simões, representa um aumento real "50% acima da inflação".
Após o conflito de sexta-feira, o pedido pela libertação dos 439 bombeiros presos se somou às exigências e se tornou uma das prioridades do movimento. Manifestantes continuam fazendo protestos na capital e no interior do Estado. Um grupo está acampado nas escadarias da Alerj desde ontem.
"É uma coisa constrangedora para todos nós", diz o presidente da Associação de Cabos e Soldados do Corpo de Bombeiros Militares do Estado, Nilo Guerreiro. "Não é este o perfil do bombeiro militar, somos uma instituição respeitada pela população. Estamos tratando de pessoas que salvam vidas, não estamos tratando de bandidos."
Ele atenua a ocupação do Quartel Central na sexta-feira e diz que a situação se agravou porque não havia diálogo com o comandante anterior. "Os bombeiros estavam aquartelados com o objetivo único de serem ouvidos pelo comandante-geral. Ele deixou de ouvir o clamor e fez com que se gerasse toda essa problemática", diz.
'A decisão é da Justiça'
Os 439 soldados estão presos em Niterói. Suas ações foram enquadradas em quatro artigos do Código Penal Militar: motim, dano em viaturas, dano a instalações e o impedimento de socorro e salvamento a outros.
Os manifestantes pedem a anistia dos bombeiros e conquistaram o apoio de parlamentares. Mas Simões ressalta que não tem competência para libertá-los, e nem mesmo o governador poderia tomar tal decisão. "Os presos estão à disposição da Justiça Militar. Os poderes são independentes, a decisão é da Justiça."
A invasão levou o governador Sérgio Cabral a chamar os bombeiros de "vândalos" e "irresponsáveis". Já Guerreiro condena a ação "truculenta" da Polícia Militar, "um órgão coirmão", na represália à invasão do Quartel Central.
Os policiais explodiram o portão dos fundos do quartel e usaram gás lacrimogêneo e bombas e efeito moral para expulsar os invasores. Mulheres e crianças estavam entre os manifestantes.
"O governo colocou uma tropa com armas letais e não letais para invadir uma unidade militar. Fomos recebidos dentro da nossa casa com truculência e repudiamos veementemente esse ato. Poderia ter tido consequências gravíssimas", diz.
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