26.6.11

"Todas as coisas do escritório que estavam por lá começaram a cair em cima de mim, e comecei a evacuar..." ESSE É APENAS UM TRECHO DO TESTEMUNHO DO TENENTE COUTO DA PM DE PERNAMBUCO QUE ESTÁ A DISPOSIÇÃO DA ONU FALANDO SOBRE O DRAMA VIVIDO DURANTE O TERREMOTO DE 2010. LEIA O DEPOIMENTO COMPLETO DO OFICIAL QUE TERÁ SUA VIDA RETRATADA PELA DISCOVERY CHANNEL.


TENENTE COUTO ESTEVE À FRENTE DOS RESGATES NO HAITI EM JANEIRO DE 2010


Na quinta-feira, 23 de junho, às 21h, o Discovery Channel apresenta um episódio inédito da série Viver Para Contar: Sobreviventes. Realizada pela produtora Conspiração Filmes, a série narra histórias extraordinárias de sobrevivência ocorridas na América Latina.
O episódio Soterrados reconstitui, por meio de dramatizações, depoimentos e imagens de arquivo, a história de dois militares brasileiros em serviço no Haiti como integrantes da Forças de Paz da ONU, que sobreviveram à catástrofe ocorrida no país, e de seus colegas de corporação que ajudaram no resgate de inúmeras vidas.
Soterrados mostra o relato comovente dos homens que sobreviveram aos escombros e daqueles que estavam à frente do resgate, entre eles otenente da Polícia Militar de Pernambuco Ricardo Couto e o Sargento Fábio Gonçalves. Juntos, eles lutam pela vida em um país onde ferramentas básicas e os recursos da engenharia são escassos, um lugar onde as mazelas sociais, que justificavam a presença de contingente brasileiro, somaram-se à destruição causada pela pior catástrofe natural que poderia acontecer. O risco de gangrena, os traumas sérios, além de tremores secundários que dificultaram ainda mais o acesso aos militares sob os escombros, são fatores agravantes narrados no episódio.
As Forças de Paz no Haiti são lideradas pelas tropas brasileiras desde de junho de 2004, quando foram enviadas para pacificar a nação que estava em guerra civil. Cinco anos depois, o país foi considerado pacificado, mas cerca de mil militares brasileiros permaneceram no país para garantir a segurança da população e a reconstrução do Haiti. A Força de Paz é tida como a mais nobre ocupação de militares, por ser composta por soldados que colocam suas vidas à disposição de nações que buscam a paz.


LEIA NA INTEGRA O DEPOIMENTO DO DRAMA VIVIDO PELO TEN COUTO NA INTEGRA DURANTE O TERREMOTO EM 12 DE JANEIRO DE 2010 NO HAITI

Bem, ontem eu estava na “Log Base” por volta das 16h50 quando o terremoto aconteceu. Acredite: nenhuma montanha russa, nenhum brinquedinho de gamestation poderá na minha vida superar a sensação que senti quando vi o mundo literalmente balançar a minha frente. Foi incrivelmente ridículo eu achar, em um primeiro momento, que estavam batendo com alguma coisa muito pesada no container em que eu estava. Paredes do container viraram do teto e eu não sabia onde estava em certo momento. Todas as coisas do escritório que estava por lá começaram a cair em cima de mim, e comecei a evacuar todos que ainda estavam lá dentro sem saber o que fazer, pois tentei manter a calma depois do primeiro momento de trauma... Existia uma canadense que estava colada ao chão de tanto medo. Eu tive que forçá-la a sair pra não deixá-la sozinha. Após isso, o tremor continuou e aumentou e de repente ouvimos um barulho terrível que vinha do solo, como se alguém estivesse jogando uma bomba na gente... ISSO DUROU TEMPO SUFICIENTE PRA QUE TODA A BASE FOSSE JOGADA DE UMA LADO PRO OUTRO BRUSCAMENTE... foi literalmente a pior sensação que já passei em minha vida, pois me senti totalmente inútil, sem poder fazer nada diante da grandeza daquele fato.



Após o choque , abrimos todos os procedimentos de segurança e liderei um comboio inteiro com o carro que estava sob minha responsabilidade em direção ao Quartel do Comando Geral da MINUSTAH (Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti, dirigida militarmente pelo Brasil), pois até então existia uma boato que o prédio inteiro havia caído e que existiam muitos mortos nos escombros do edifício de seis andares. Quando fomos para o trânsito, o caos e o pânico estavam instalados e a população , em sua maioria, estava nas ruas, com medo de ficar em suas casas, tornando o trânsito por lá um verdadeiro inferno. Quando estávamos nas ruas, eu vi cenas que normalmente só vejo em filmes: crianças mortas nos braços de mães e pais que pediam ajuda quando viam nosso veículo, gente morta no meio da rua, casas completamente destruídas, lacerações gravíssimas, idosos necessitando de atenção médica urgente...E, acompanhado disso, uma sensação de desespero que tive que controlar, por ter sido, de certa forma, preparado para isso como Policial Militar. Quando finalmente chegamos ao meio do caminho Hotel Cristofer, sede da MINUSTAH, TIVEMOS QUE PARAR NOSSO COMBOIO PORQUE NAO TÍNHAMOS MAIS COMO PASSAR PELOS ESCOMBROS QUE TODAS AS CASAS DA RUA TINHAM DEIXADO... Então decidi liderar o Comboio a pé e em conduta de patrulha. Ao alcançar finalmente nosso objetivo, me deparei com um pequeno holocausto haitiano... Não poderia ser, eu não acreditava que estava acontecendo: seis andares, cheios de pessoas haviam simplesmente sido reduzidos a meros escombros que não chegam a altura sequer de um único andar.

No comments: