30.12.11

ANO NOVO VIDA NOVA: EX DETENTA GANHA LIBERDADE A POUCAS HORAS ANO NOVO

A menos de dois dias da virada do ano, JC conta a história da ex-presidiária Adriana Ramos

Publicado em 29/12/2011, às 21h56

Marcela Balbino

Do Jornal do Commercio

Maior desafio de Adriana José Ramos da Silva, 35 anos, é reconquistar amor dos filhos. / Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

Maior desafio de Adriana José Ramos da Silva, 35 anos, é reconquistar amor dos filhos.

Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem

Renascimento. Não há outro substantivo para definir a emoção que Adriana José Ramos da Silva, 35 anos, transmitiu quando mirou o céu azul do lado de fora das grades da Penitenciária Feminina de Abreu e Lima, no Grande Recife. Esta quinta (29), após um ano e 11 meses atrás das grades, sentiu novamente o gosto da liberdade. Agora, o maior desafio para 2012 é reconquistar o amor dos filhos e correr atrás para apagar as cicatrizes deixadas pelo cárcere. “Meus sonhos agora são deles e vou lutar para conseguir realizar o desejo de cada um. Nem que seja catando latinhas”, promete a mãe de Bruno, 14; Márcia, 12; Amanda, 10, e Laurinha, 4.

Presa em 2006, Adriana foi enquadrada no artigo 157 do Código Penal. Ela participou de um assalto a um motobói, no Centro de São Lourenço da Mata, Grande Recife. Depois de cumprir oito meses da punição imposta pelo Estado, na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, ela fugiu. “Estava grávida de Laurinha, minha filha mais nova, e não queria dar à luz dentro da prisão.”

Quatro anos depois, enquanto fazia o almoço, a polícia bateu em sua porta para recapturá-la. Nesse momento, mais do que a liberdade, perdeu a admiração dos filhos. “Foi horrível, chegou a imprensa e filmou tudo. Depois disso, os meninos começaram a sofrer discriminação na escola, os colegas faziam piadas dizendo que a mãe deles era presidiária. Um deles foi dispensando da seleção de um time de futebol depois que descobriram minha condição”, conta Adriana.
Condenada a seis anos, três meses e 26 dias de reclusão, ela foi a última mulher a receber o livramento condicional em 2011. Por causa do bom comportamento e pelos trabalhos realizados dentro da unidade, vai cumprir o resto da pena em liberdade. Mas, até 2015, precisa voltar à penitenciária para assinar o documento da condicional.
Embora esteja otimista com a nova vida que se inicia, Adriana teme pelo futuro quando o assunto é emprego. “Quem vai querer dar trabalho a uma mulher com passagem pela cadeia? E logo no 157 (assalto)”, desabafa. Apesar dos estigmas do passado, ela não titubeia no discurso: “Em 2012, vou lutar para alugar uma casinha e recuperar a admiração dos meus filhos. Minha vida é uma sucessão de sonhos perdidos, mas vou recomeçar e nunca mais quero voltar para um lugar feito desse”.

Do outro lado da história, a mãe de Adriana, Angelita Barbosa, não esconde a emoção pelo reencontro com a filha, que não vê há quase dois anos. “Não aguento ir a esses lugares. Ver minha filha presa e não poder fazer nada, prefiro nem chegar perto.” Para o ano-novo, Angelita revela: “Estou feliz da vida, vamos começar o ano juntas. Agora é bola pra frente e fé no futuro. Ela errou, mas também tem direito a um recomeço”.
Fonte: NE10

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