14.1.12

CASO CORONEL BELTRAME: SOLTO DENOVO, OFICIAL EVITA FALAR COM A IMPRENSA. ENTENDA A SITUAÇÃO


Ex-comandante do 7º BPM é acusado de receber propina de traficantes.
Coronel deixou quartel onde estava preso na madrugada de sábado (14).

Do RJTV
22 comentários
A decisão judicial que libertou na madrugada deste sábado (14) o ex-comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Djalma Beltrami, diz que não havia razão para manter a prisão preventiva contra ele.
Beltrami, que é ex-árbitro de futebol, foi preso na quinta (12) sob a suspeita de receber propina de traficantes, para não reprimir o tráfico de drogas em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Ele já havia sido preso e solto pelo mesmo motivo em dezembro. O coronel comandou o 7º BPM entre setembro e dezembro, quando foi afastado do cargo.
O site do jornal "Extra" teve acesso à íntegra da decisão (leia aqui) que soltou Beltrami. O texto é assinado pelo desembargador Antônio Carlos dos Santos Bitencourt, que atendeu a um pedido de habeas corpus feiro pela defensora pública Cláudia Valéria Taranto.
Na decisão, o desembargador diz que o "o juiz de primeiro grau que decretou a prisão deu magia a novas palavras, que passaram a ter força de prender, dizendo ter surgido das escutas telefônicas novas referências que comprometeriam Djalma Beltrami, mas que continuam no perigoso terreno da suspeita, da conjectura".
Segundo Bitencourt, "não existe nas escutas qualquer captação de voz atribuível ao coronel, o que certamente já seria um indício severo de seu comprometimento na malha criminosa. O que existe de concreto são diálogos de terceiro que não mencionaram especificamente o nome de Beltrami".
Para o desembargador, a prisão sem provas consistentes "pode ocorrer quando se tem por ótica o perigoso 'Estado Policial', onde direitos são solapados, acusa-se primeiro para depois provar, e expõe-se apressadamente a vida de uma pessoa ao repúdio social".
Novas provas
Na sexta-feira (13), a Polícia Civil justificou a nova prisão de Beltrami. Afirmou ter novas provas contra ele. Segundo o Ministério Público, numa das conversas interceptadas, o coronel "fala com um subordinado sobre a retirada de qualquer material errado nas viaturas, como touca ninja, munições não permitidas e armamento, pois não queria ter problemas com eventual fiscalização da corregedoria".
Em nota, os promotores afirmaram que policiais que integravam o Grupo de Ações Táticas (GAT) do batalhão combinavam com um traficante o pagamento de propina semanal no valor de R$ 20 mil, dos quais R$ 10 mil eram repassados ao então comandante Djalma Beltrami.
O delegado Alan Luxardo, que comandou as investigações, falou sobre os motivos da nova prisão do coronel. "A investigação tem em seu bojo mais de 100 diálogos em que ficou bem caracterizado o pagamento e o recebimento de propina. E a omissão ficou gritante, uma omissão dolosa. Em matéria penal, todo aquele que tem o dever de agir e não age, responde pelo crime pelo qual ele está, ele estiver se omitindo".
O coronel Djalma Beltrami passou a noite no quartel do Quartel General da Polícia Militar, no Centro do Rio. Por ser oficial superior, ele ficou numa sala do segundo andar. Ele teve a prisão decretada pelo juiz Marcio da Costa Dantas, da 2ª Vara de São Pedro da Aldeia, junto com outros 40 acusados de tráfico e associação para o tráfico, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
Primeira prisão
Em dezembro do ano passado, Beltrami havia sido preso sob suspeita de chefiar um esquema de corrupção, que recebia de traficantes R$ 160 mil por mês. Outros dez PMs também foram presos suspeitos de participar do grupo. Uma semana depois de ser solto, o coroneldesabafou e disse ser inocente. "Eu nunca recebi propina na minha vida", disse na época.
Também em dezembro, 11 policiais militares foram presos durante a  operação "Dezembro Negro", comandada pela Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. No mesmo dia, outras sete pessoas foram presas suspeitas de participarem do tráfico de drogas do Morro da Coruja, em São Gonçalo.
Neste grupo, segundo o delegado Alan Luxardo, há três menores. O delegado afirmou, ainda, que alguns traficantes que atuam na comunidade fugiram do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, após ocupação em 2010. Na operação também foram apreendidos cinco quilos de maconha, sacolés de cocaína, um radiotransmissor e um revólver calibre 38.

Comandante é ex-juiz de futebol

Beltrami comandou equipes em momentos de grande repercussão, como o massacre da escola de Realengo, na Zona Oeste, em abril, quando 12 crianças foram mortas. Mas o comandante ganhou fama numa carreira paralela a de policial, nos gramados: durante 22 anos ele foi juiz de futebol.
De acordo com o Globoesporte.com, Beltrami, paulista de 45 anos, fez parte do quadro de árbitros da Ferj de 1989 a 2011, quando se aposentou por idade em maio. Também era dos quadros da CBF (1995 a 2010) e da Fifa (2006 a 2008).
Investigações começaram há 7 meses
As investigações, que começaram há sete meses, apuravam o tráfico de drogas na Região dos Lagos. Segundo a Polícia Civil, as drogas saíam de favelas como Parque União, Manguinhos e Nova Holanda, no subúrbio, e seguiam para o Morro da Coruja, em São Gonçalo. PMs recebiam propina para não reprimir a chegada dos entorpecentes à comunidade. De lá, as drogas eram levadas para São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.
Djalma Beltrami assumiu o 7º BPM após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, acusado de envolvimento na morte da juíza Patrícia Acioli. Patrícia foi executada com 21 tiros ao chegar em casa, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, em agosto. 

No comments: